domingo, 16 de novembro de 2008

Conto

Tantos rostos desconhecidos à minha volta, não reconheci um único traço, eram todos indiferentes à minha presença, se não estivesse ali, não sentiriam a minha falta, era apenas mais uma pessoa que por ali passava.
Acenos de despedida, lágrimas, almas despedaçadas por verem seus entes queridos a partirem numa viagem sem regresso garantido. Estava perdida no meio de abraços apertados, de promessas de retornos incertos. Ao longe vejo-te tão descontente quanto eu, nas tuas mãos carregavas injúrias de quem prometeu a paz, irias embarcar num destino que não te pertencia, escolhido por alguém alheio a ti.
Já à tua beira, aprecio o teu rosto sereno e gasto, deslavado por tantas noites sem dormir esperando a derradeira despedida. Trocamos abraços indolentes aos sentimentos passados, tentando agarrar o tempo para tornar eterno o toque que em breve deixaria de ser real.
À nossa volta já se iam dispersando as pessoas anónimas, restando nós, que continuávamos numa dolorosa/calorosa despedida, mas o fim aproximava-se, faltavas apenas tu para embarcar, um último gesto, um último toque e foste, os meus lábios que até então estavam cerrados, abriram-se num lamentável movimento: “Amo-te”.
Não sei se ouviste o que tanto me custou dizer, mas pelos os teus olhos caíram as lágrimas que ainda hoje estão por cair dos meus.

3 comentários:

Anónimo disse...

A forma como tu escreves tem a capacidade de nos transportar a essa despedida imaginária ou real,sente-se a dor do adeus.
Esse teu dom de transmitir sentimentos brota em cada palavra que "pronuncias".
É com um grande prazer que espero para saborear novas palavras tuas.

kris disse...

que triste....conheço o sentimento do embarque..e é algo doloroso de recordar...tanto porque daqui a dias sou eu que vou embarcar...para o outro lado do mar...pra longe do que me faz feliz...

beijo

Fuzz' disse...

Foda-se isto foi profundo.